Review: Call of Duty Black Ops 3
Sempre que o lançamento de um novo game da série Call of Duty é anunciado, uma torrente de comentários negativos e pessoas dizendo que não irão comprar o novo jogo aparece na internet, em todas as redes sociais, em todas as seções de comentários em sites especializados. Foi assim nos últimos 5 anos, com Black Ops 3 sendo a vítima da vez. Qual o motivo de tanto pessimismo? Podem variar. Mas por hora, vamos à análise de Call of Duty Black Ops 3.
Um mundo completamente conectado
Com o desenvolvimento da Interface Neural Direta (IND, na sigla em português), a comunicação entre as pessoas se torna mais fácil, permitindo acessar até mesmo as lembranças de cada usuário. Tudo está sendo gravado, tudo pode ser acessado, e possivelmente simulado. Agora, os seres humanos tinham o poder de controle sobre os outros, e também sobre os computadores. Graças a IND, é possível se conectar com qualquer tipo de dispositivo computadorizado.
A premissa de Black Ops 3 se encontra em seu futuro distópico, onde homem e máquina cada vez se tornam mais unificados. O título explora o tema de inteligência artificial de forma interessante, ainda que um pouco sutil no começo. Até onde devemos nos envolver com as máquinas, com inteligências forjadas pelo ser humano? Esta é uma pergunta que acompanha de forma implícita o enredo do game.
A trama segue trazendo batalhas em diversos cenários mundiais, sendo o jogador membro da elite Black Ops. Reviravoltas, vingança e fúria fazem parte do roteiro, que tem uma certa competência em apresentá-los a nós. O grande ponto fraco deste game se encontra muito no desenvolvimento de seus personagens. Falta carisma para grande parte deles, mas não creio que culpá-los seja o ideal. O game avança de maneira rápida, e isso acaba sendo um defeito da grande maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa. Campanhas curtas, que não desenvolvem da maneira correta seus personagens. Em Call of Duty, não é a primeira vez que isso acontece, considerando seus últimos três títulos.
É preciso destacar também que a temática de futuro disópico e de tecnologia avançada não é novidade, tendo sido abordada no game anterior, Advanced Warfare. Em Black Ops 3, introdução do personagem principal às novas formas de combate por meio da tecnologia militar avançada é realizada praticamente da mesma maneira que em Advanced Warfare.
A introdução de habilidades especiais ao personagem traz uma variedade interessante na jogabilidade do título. É possível correr pela parede, saltar mais alto que o normal, ter quedas controladas, incendiar inimigos e hackear robôs inimigos para que lutem ao seu lado, dentre outras. Tudo é realizado por meio da aquisição de pacotes de desenvolvimento, que servem como pontos de habilidade do protagonista. Os pontos podem ser gastos na compra das habilidades cibernéticas, assim como na aquisição de novas habilidades de movimentação, armamentos e melhorias passivas. As opções oferecidas tornam os combates dinâmicos e estratégicos, e dão um ar de novidade muito forte à campanha do título, que apesar de ser curta, tem muitos momentos de diversão.
Multiplayer refinado
A Treyarch, desenvolvedora do título, trouxe um novo gás ao sempre excelente multiplayer da série Call of Duty (favor excluir CoD Ghosts, um capítulo lastimável da franquia). Dinâmico como sempre, agora podemos correr pelas paredes e fuzilar inimigos enquanto isso. Uma sensação única acertar um tiro na cabeça enquanto se realiza tal corrida, devo dizer.
A grande adição deste modo fica por conta dos Especialistas. Os Especialista são como classes de um MOBA. Cada Especialista tem duas habilidades, sendo, na maioria das vezes, uma de ataque e uma de defesa/suporte. Cabe ao jogador escolher aquele que combina mais com seu estilo de jogo, assim como as necessidades de seu time. Com esta nova opção em jogo, é preciso avaliar cada mapa e objetivo, e encaixar a melhor especialidade.
O número de armas é imenso, trazendo opção para todos os tipos de combatentes, desde escopetas de combate a curto alcance a rifles de precisão para aqueles que gostam de ficar mais isolados (ou campers, se quiserem).
Mesmo trazendo um modo multiplayer incrível e variado, Black Ops 3 sofreu, em seu lançamento, com problemas em seus servidores. Problemas como não encontrar partidas e conexão intermitente eram comuns, mas com o passar dos dias, tudo foi se estabilizando. Ou melhor, quase tudo. Servidores brasileiros e da America Latina ainda sofrem, até a data que esta análise foi escrita, com conexões intermitentes e atrasos de conexão. A Activision declarou já ter corrigido tais problemas, então é possível que o serviço esteja se estabilizando. O processo completo ainda pode demorar alguns dias, mas pelo menos houve uma boa notícia.
Outro problema persistente no modo multiplayer é a rotação de mapas. Ao término de uma partida, abre-se votação para o cenário da próxima partida. É possível votar no mapa jogado na partida anterior, ou votar em um novo mapa pré-definido. O que ocorre, muitas vezes, é que determinados cenários são preferência da maioria dos jogadores. Isso acaba levando a uma repetição constante de determinados mapas. Em uma de minhas sessões, joguei o mesmo mapa 6 vezes seguidas. Eu já havia enjoado há pelo menos 4 partidas atrás.
Zumbi pra todo lado
O modo zumbi retorna em Black Ops 3, como tradição da série. Agora o modo possui uma pequena história, trazendo quatro personagens distintos em um cenário de uma cidade dos anos 40. Cada um dos sobreviventes possui uma estranha marca em uma das mãos e, juntos, partem em busca das revelações por trás da infestação dos comedores de cérebro.
O esquema de rodadas continua firme e forte. A cada nova rodada, a dificuldade é aumentada, trazendo para os jogadores novos chefes e opções. A pontuação é utilizada não apenas para comprar itens, mas também para progredir na história, já que agora abrir passagens significa dar prosseguimento aos eventos que o modo quer nos contar.
Além dos power-ups deixados pelos zumbis, é possível montar um set com as gomas de mascar, ou Gobblegums. Cada uma delas oferece uma habilidade única. Elas são compradas nas máquinas de gomas encontradas em determinados pedaços, e o set pode ser montado, evoluído e/ou modificado no laboratório do Dr. Monty.
Saindo um pouco do modo tradicional da zumbizada, aqueles que fecharem a campanha principal de Black Ops 3 terão a oportunidade de experimentá-la em uma versão alternativa, em que os eventos principais são mesclados com a existência dos zumbis, que provém de acidentes nucleares. É uma proposta nova na série, e ajuda a dar uma base para a existência dos mortos-vivos, assim como serve como um dos pilares de novidades do game como um todo.
Imperfeição técnica
Call of Duty Black Ops 3 sofre constantemente com quedas nas taxas de quadros por segundo. Rodando, teoricamente, ea 60 quadros, é comum encontrar partes do game em que os cenários são muito “pesados” e acabam trazendo uma lentidão à fluidez do game. Isso ocasiona em quebras de imagem, ou screen tearing. A oscilação da taxa acaba gerando um novo problema, que prejudica a experiência gráfica do jogador. É claro que os mais atentos perceberão com mais facilidade, podendo alguns jogadores nem mesmo percebê-lo mas é um problema que ocorre em qualquer modo de jogo, então é preciso apontá-lo.
A adoção de uma taxa de quadros de 60 é comum na série. Mas infelizmente essa taxa não se traduz em diversos momentos do game. E não estou falando nas quedas esporádicas durante o gameplay, mas sim a diminuição brusca e pré-definida em cenas de corte. Se por um lado os momentos de jogabilidade rodam a teóricos 60 quadros, segurar o botão de ação para abrir uma porta fará com que o game entre em uma “mini-cutscene”, diminuindo bruscamente a taxa de quadros por segundo. Isso é algo que ocorre para a maioria dos eventos do jogo, algo que não é costumeiro na franquia. A série sempre se caracterizou por seus momentos grandiosos, e isso se deu muito por vivenciarmos tais momentos durante nossa experiência de jogabilidade, com tudo ocorrendo em primeira pessoa, assim como nos momentos e tiroteio. Essa introdução de muitas cenas de corte acaba sendo uma espécie de novidade, mas que não é bem-vinda. Segue um exemplo de um momento grandioso que ocorre sem qualquer tipo de transição para cenas de corte, de outro game da franquia, Modern Warfare 3.
Um bom game, mas com ressalvas
Tanto a parte sonora quanto a parte gráfica do game não decepcionam. Os cenários são lindos, e possuem ainda mais vida do que nos jogos anteriores. A escala das cores é mais nítida e forte, ajudando a compor beleza do título. Os personagens também possuem uma modelagem legal, ainda que as expressões faciais não sejam grande coisa (exceto por personagens como Taylor, que recebeu tratamento especial baseado em seu modelo de captura, o ator Cristopher Meloni). O trabalho feito com os designs das armas também é incrível, e isso fica ainda melhor por conta dos efeitos sonoros da mesma. A dublagem em português brasileiro também é boa e, nesse quesito, melhorou em relação aos jogos anteriores. O destaque fica por conta das vozes dos quatro protagonistas do modo zumbi, que possuem vozes conhecidíssimas do público que acompanha trabalhos com dublagem brasileira.
Mesmo trazendo modos de jogo competentes e uma história interessante, os problemas técnicos são novidades negativas na série, principalmente nos jogos produzidos pela Treyarch. Ainda assim, os problemas e pontos negativos do jogo acabam ficando por conta de seu desempenho técnico. É possível que este seja um dos melhores Call of Duty dos últimos anos, principalmente em sua porção online competitiva.
Título: Call of Duty Black Ops 3
Gênero: Ação, Guerra, Tiro em primeira pessoa (FPS)
Desenvolvedora: Treyarch
Distribuidora/Produtora: Activision
Plataformas: PS4, Xbox One e PC (as versões de PS3 e Xbox 360 contém apenas os modos multiplayer online e zumbis)
PS: o título foi analisado em sua versão de PS4. Pode ser que os problemas aqui relatados não ocorram nas demais versões.