The Witcher 3 foi outro game que entrou na onda dos adiamentos. A CD Projekt Red, porém, justificou o atraso de seu novo título ao trazer um dos mais ricos e belos jogos já produzidos até o momento.
Sou Geralt de Rivia, um Bruxo
Um evento chamado Conjunção das Esferas permitiu que forças das trevas adentrassem o mundo dos homens. O resultado deste evento foi o surgimento da força da magia, que acabou por criar criaturas sombrias junto à existência das criaturas de “luz”. Era dever dos homens combater a magia? Talvez, mas ao invés disso, eles a estudaram, em busca de glórias e fortunas. Porém, os monstros estavam à solta. As criaturas vis agora ameaçavam a todos, e caberia aos Bruxos caçar e matar tais feras. Sempre em troca de dinheiro.
Os Bruxos são uma raça de seres que, desde sua infância, passaram por duro treinamento psicológico e físico, incluindo processos alquímicos, que melhoram suas resistências e desenvolvem seus sentidos de maneira incomum. Essa é a base de The Witcher, como um todo.
Assumimos o papel de Geralt de Rivia, um Bruxo, também conhecido como Lobo Branco. The Witcher 3 traz Geralt, em seu prólogo, como um dos mestres de uma criança selecionada para ser um Bruxo. O tempo passou, e Geralt já não tinha mais contato com Ciri, sua discípula. Buscando encontrar novamente com Yennefer de Vergerberg, Geralt acaba se encontrando no caminho da Caçada Selvagem que, por algum motivo, está atrás de Ciri. Cabe a Geralt encontrar sua discípula e filha “de consideração”, e impedir os ventos da Geada Branca.
The Witcher 3 traz uma história que envolve o jogador de maneira esplêndida. Tanto os veteranos, que jogaram os dois primeiros games, quanto os novatos que começaram diretamente neste terceiro capítulo, se sentirão motivados e intrigados com aquilo que lhes é apresentado. Claro que os veteranos se sentirão mais em casa, principalmente por rever rostos conhecidos e compreender referências ao passado de Geralt. Mas os novatos não precisam se preocupar, pois o game é muito amigável com todos. De qualquer maneira, se for do interesse do jogador, é possível encontrar bons resumos na internet dos dois primeiros capítulos.
Os personagens de Wild Hunt são muito bem desenvolvidos. Geralt é carismático à sua maneira e, independentemente da maneira como o jogador o conduza, é muito fácil se sentir na pele do Bruxo e criar um laço com os acontecimentos que ele vive. Cirilla, uma das personagens femininas do game, é digna de ser uma protagonista. Tem personalidade forte, é determinada e sabe bem o que quer. Na minha opinião, conseguiria facilmente sustentar um game por conta própria. Yennefer, por sua vez, é mais contida em suas ações, apesar de também ser uma personagem forte. Ela não se impõe como Cirilla, mas é o jeito da personagem de não deixar que ninguém pise em seu calo.
Cada personagem que encontramos pelo caminho possui uma história própria. Isso é muito interessante, e instiga o jogador a aproveitar o máximo possível dos diálogos que tem com cada um que encontra em sua jornada. Descobrir as nuances da vida alheia pode se mostrar enriquecedor e, além disso, muitos personagens secundários e até mesmo terciários, tem papel fundamental na história de Geralt e na maneira como o jogador conduz suas escolhas.
Falando nas escolhas, aqui as ações do jogador tem resultado direto na vida daqueles que Geralt encontra. Muitas das missões podem ser conduzidas de mais de uma maneira, tendo o resultado final diferente. É sempre bom ter em mente que suas decisões irão afetar, de alguma maneira, aquilo que o rodeia. Ainda me lembro de ter liberado um espírito maligno que disse que iria salvar cinco crianças de um pântano. Bem, o espírito salvou as crianças, mas destruiu uma vila por completo durante o processo, matando todos os habitantes dali. Mal por mal, fiz o mal menor, mas ainda assim, foi sombrio. Aqui entra um pouco da questão moral de Geralt, que afirma que não devemos olhar para trás, independentemente de nossas escolhas.
Admirando a paisagem
Um jogo, por melhor que ele seja, pode ser enriquecido se tiver belos visuais. The Witcher 3 traz um dos visuais mais belos da atualidade. Os cenários são muito bem detalhados, com texturas bem construídas e modeladas. É difícil ver algo que esteja “chapado” no cenário, sem detalhes e que possa destoar negativamente do restante. Tudo é absolutamente lindo, desde o balançar das árvores pelas ventanias do clima chuvoso, até os detalhes nas vestimentas dos personagens. As armaduras brilham quando iluminadas. As espadas reluzem em ferro e prata.
Os personagens também não deixam a desejar, possuindo modelagens bonitas e bem trabalhadas. Alguns detalhes chamam a atenção, como os cabelos esvoaçantes, ou a barba de Geralt, que cresce com o passar dos dias. São pequenos detalhes que enriquecem o todo.
Talvez o único ponto polêmico que possa gerar alguma negatividade em algumas pessoas, pelo menos na parte de direção artística, seja a maneira como as mulheres do game são retratadas, sendo sempre sensuais, voluptuosas e provocantes. Entendo que a grande maioria delas são personagens fortes, e colocariam qualquer homem no chinelo, mas é preciso tomar cuidado com esse tipo de representação, principalmente para não passar uma depreciação não-intencional. Ora, afinal de contas, por que muitas delas se curvam à presença de Geralt? O desejo delas fica vezes implícito, vezes explícito. Muito depende da escolha do jogador, mas mesmo assim, não justifica as atitudes de algumas personagens.
Música para meus ouvidos
A trilha sonora do game é maravilhosa, trazendo músicas e temas medievais, influenciados principalmente pelo folk. As músicas não param de tocar, tendo cada região seu próprio tema sonoro. Durante as batalhas, a música calma é trocada por algo um pouco mais agitado, mas ainda assim gostoso de se ouvir. Faz as batalhas serem ainda melhores.
A dublagem brasileira do game é algo de destaque. A qualidade é inegável, principalmente pela voz de Geralt, dublado por ninguém menos que Sérgio Moreno, que empresta sua voz frequentemente para atores como Denzel Washington. Para quem quiser uma referência nos games, Moreno é a voz de Aiden Pearce, em Watch_Dogs, da Ubisoft.
A parte sonora sofre com problemas de picote, onde um efeito sonoro acaba não sendo emitido, principalmente durante um combate. Nas minhas jogatinas, percebi que o problema é sempre no segundo golpe, de uma sequência de três golpes. Não é exatamente algo frequente, mas é perceptível para os mais atentos. Incomoda? Não, mas é válido notar. E ainda sobre a dublagem, é extremamente frequente encontrar as mesmas vozes, tanto em personagens secundários com relação direta a Geralt, quanto personagens terciários. A variedade podia ser maior, mas pelo menos são vozes de qualidade.
Me preparando para duelar
Alguns definem The Witcher 3 como um jogo de RPG de ação. Por mais que eu aceite esta definição, não gosto quando um ou outro indivíduo traduz o estilo de combate de The Witcher 3 como um hack n’ slash, que é uma definição de combates viscerais, cabendo mais a jogos como God of War. Wild Hunt traz um combate mais refinado, onde se vence não apenas por sua habilidade de atacar, mas também por sua preparação antes de cada embate. Geralt pode usar da alquimia para criar poções, óleos e elixires mágicos para imbuir suas espadas com propriedades mágicas que lhe dão vantagem em combate. Basta ter os ingredientes certos. Vai enfrentar uma aparição diurna? Então leia sobre elas no bestiário, e se prepare com um óleo próprio para este tipo de inimigo. Isso é muito positivo, visto que traz um certo nível de estratégia ao jogo.
The Witcher 3 traz um estilo de combate que eu gosto de pensar que puxa muito para um duelo, apesar de nem sempre você enfrentar apenas um inimigo por vez. O lance aqui é que não adianta atacar cegamente, desenfreado. É preciso ter calma, usando defesas e esquivas nos momentos certos, para efetuar contra-ataques efetivos e abrir as defesas dos inimigos.
Geralt tem à sua disposição também os Sinais, que são formas de magia utilizadas por Bruxos e que podem ser empregadas em combate. O Sinal Aard conjura uma onda de energia que empurra os inimigos para trás; Igni conjura uma onda de fogo; Quen oferece um escudo de proteção à Geralt que o impede de tomar um golpe (pode ser fortalecido e aumentar o número de golpes suportados); Axii atordoa os inimigos, entrando em suas mentes; Yrden conjura uma armadilha mágica que traz malefícios temporários aos inimigos dentro dela. Cabe ao jogador saber o momento certo de usar cada um dos Sinais, analisando a situação e definindo a melhor estratégia.
Um jogo que honra sua espera
The Witcher 3: Wild Hunt é o tipo de jogo que faz cada segundo de sua espera ter valido a pena. O conjunto técnico é formidável, assim como a história. O conjunto da obra é algo que a CD Projekt Red deve se orgulhar. Não isento o game de pequenos detalhes que poderiam melhorar, inclusive alguns “mini-bugs”, como o cavalo ficar preso em uma árvore. Mas são coisas tão infrequentes que não chegam a atrapalhar a jogatina, podendo ser até mesmo motivo de risada para o jogador.
Este não é um jogo para os amantes de RPG. É uma obra que merece ser jogada, e que facilmente irá consumir duzentas horas do precioso tempo de cada indivíduo que decidir se aventurar na pele do Lobo Branco de Rivia. Seríssimo concorrente a jogo do ano.
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