Um livro encantador que pela primeira vez é editado no Brasil. A editora curitibana Arte & Letra trouxe em 2012 A Maravilhosa Terra dos Snergs (280 páginas) numa bela edição com as ilustrações originais de George Morrow, que são incríveis. O livro é de 1927 e a tradução ficou por conta de Gabriel Oliva Brum.
Acompanhamos a história de Sylvia e Joe, que se conheceram na SRCS (Sociedade para Remoção de Crianças Supérfluas), ou seja, se uma criança está em casa, mas os pais – ou pai – não lhe dão atenção e respeito, essa Sociedade a retira de seus adultos e a leva até a Baía Watkyns (tem esse nome porque quem cuida é a Srta. Watkyns). Lá recebem todos os cuidados necessários. Incrivelmente o lugar permite que se esqueça de seu triste passado e viva uma vida feliz. É uma ilha de localização imprecisa. Não é qualquer um que pode simplesmente chegar.
Mais para além, há a terra dos snergs. E todos são amigos e se ajudam na ilha.
Sylvia e Joe são crianças de verdade, aprontam, brincam, agem como devem ser, sem exageros ou adultização inconveniente como em muitas histórias. E são muito amigos.
J R. R. Tolkien (1892 – 1973) era um leitor da obra e a lia para seus filhos. Percebe-se que o livro foi uma grande inspiração para criar seu universo. Os hobbits lembram e muito os snergs. O Hobbit foi publicado dez anos depois de A Maravilhosa Terra dos Snergs.
“Os snergs são uma raça de pessoas somente um pouco mais altas do que uma mesa comum, mas possuem ombros largos e grande força. Eles provavelmente são algum ramo dos duendes que outrora habitavam as colinas e florestas da Inglaterra e que acabaram por desaparecer por volta do reino de Henrique VII”.
“Os snergs são ótimos com banquetes, que dão ao ar livre em longas mesas juntadas que seguem as curvas da rua. Isso é necessário porque quase todos são convidados – ou, melhor dizendo, ordenados a comparecer (…). Os snergs às vezes têm dificuldades em arranjar uma razão para um banquete, e então o Mestre de Assuntos Domésticos, sendo este o seu trabalho, precisa caçar por uma razão qualquer, como ser o aniversário de alguém. Certa vez deram um banquete porque não era aniversário de ninguém naquele dia”.
Por uma brincadeira de mau gosto feita por Joe, ele é preso no quarto da torre – que é um tanto sem sentido feito pelos snergs, os responsáveis pelas construções na ilha. A Srta. Watkyns cuidou bem de perto porque eles adoram construções assim, sem sentido. Mas certo dia a Srta. precisou se ausentar, quando voltou lá estava o quarto na torre. Era tão pequeno que não tinha muita serventia. Ela pensou em fazer um pombal, porém, serviu bem para deixar Joe de castigo.
A mente de meninos funciona tão bem que logo Joe arranja um meio de fugir, com a ajuda de Sylvia e Tigre, o cachorrinho. Então vão por diversão passear na terra dos snergs. Desejavam voltar e contar aos outros sobre como é lá, mas acabam se perdendo e quem os encontra é o snerg Gorbo, que os leva em segurança até a sua terra.
Esse é um ótimo motivo para uma festa!
Depois eles deveriam ser devolvidos à Baía Watkyns, mas é o desastrado Gorbo quem deve levá-los, então acabam novamente perdidos, dessa vez ainda mais longe, do outro lado do imenso rio.
Os três passam por muitas aventuras, encontram alguns personagens interessantes, como Golithos, um ogro reformado e Baldry, um bobo da corte. E seguem em busca da bruxa Mãe Meldrum, a fim de obterem ajuda para voltar às suas casas.
É uma história tão gostosa, repleta de partes quase palpáveis de tão divertidas e convidativas. Nota-se que muitos autores se inspiraram na obra de E. A. Wyke-Smith (1871 – 1935). Quem curte fantasia não pode deixar de ler A Maravilhosa Terra dos Snergs, sem dúvida passará momentos incríveis.
Sobre o autor
Edward Augustine Wyke-Smith nasceu no Reino Unido em 1871. Aventureiro, juntou-se à tripulação de um veleiro e partiu para a Austrália e a costa oeste dos Estados Unidos. No oeste americano, trabalhou como caubói. De volta à Inglaterra, estudou engenharia de minas, para depois administrar minas no México, Espanha, Portugal, Noruega e no Oriente Médio. Durante a Primeira Guerra Mundial, construiu uma ponte flutuante sobre o Canal de Suez, no Egito. Escreveu seu primeiro livro, Bill of the Bustingforths (1921), a pedido de seus filhos. Ainda nos anos 1920, Wyke-Smith publicou várias outras obras, tanto para adultos como para crianças. A Maravilhosa Terra dos Snergs, publicado em 1927, é seu último livro e sua obra mais conhecida. Faleceu em 1935, no Reino Unido.