A Incrível Jornada de Street Fighter II para o Master System: Como a TecToy Superou Limites Técnicos e Fez História no Brasil

A TecToy fez história em 1997 ao adaptar Street Fighter II para o Master System, superando desafios técnicos e recebendo a aprovação da Capcom. Saiba como o "jeitinho brasileiro" transformou essa versão em um item raro e cobiçado por colecionadores.

A parceria histórica entre SEGA e TecToy: O contexto

Na década de 1980, a SEGA, uma das gigantes da indústria de videogames, firmou parcerias globais para distribuir seus consoles. Enquanto, nos Estados Unidos, a aliança foi feita com a fabricante de brinquedos Tonka, no Brasil, a parceria se tornou única e emblemática. Foi aqui que a SEGA se uniu à TecToy, criando uma relação que iria muito além da simples distribuição de produtos. Esta união transformou a TecToy em uma das maiores impulsionadoras do mercado gamer no Brasil, e em 1997, culminou em um feito extraordinário: o lançamento de uma versão exclusiva de Street Fighter II para o Master System.

O “jeitinho brasileiro” da TecToy

A estratégia da TecToy, moldada por anos de experiência e marcada pelo famoso “jeitinho brasileiro”, foi essencial para consolidar sua posição no mercado. Durante a chamada “reserva de mercado”, que vigorou no Brasil entre 1984 e 1992, a indústria tecnológica local viu um crescimento explosivo, muitas vezes baseado em práticas de pirataria oficializada. Empresas nacionais lançavam versões de produtos estrangeiros com adaptações locais. A TecToy, porém, era diferente. Ela tinha um acordo oficial com a SEGA, o que a diferenciava dos demais fabricantes de clones e a posicionava como líder no segmento.

Uma das primeiras grandes investidas da TecToy foi o lançamento do jogo de laser da SEGA, Zillion, baseado em um anime japonês. Esse jogo vendeu mais no Brasil do que no Japão, demonstrando a capacidade da empresa de entender e conquistar o público brasileiro.

O investimento massivo no Master System

A partir de 1989, a TecToy apostou pesado no Master System, investindo não apenas no console em si, mas em publicidade e na criação de um programa de fidelidade inovador, o Master Club. Esse investimento resultou na conquista de até 80% do mercado de consoles de 8 bits no Brasil. Mesmo após o lançamento do Mega Drive, a TecToy continuou a dar suporte ao Master System, um reflexo da sua estratégia de maximizar o potencial de cada produto.

Street Fighter II no Master System: Um desafio técnico sem precedentes

Em 1997, seis anos após o lançamento de Street Fighter II, a TecToy decidiu encarar um desafio que parecia impossível: adaptar o jogo, originalmente desenvolvido para consoles de 16 bits, para o Master System, uma plataforma de 8 bits. A ideia surgiu após o então gerente de engenharia da TecToy, Heriberto Martinez, expressar seu desejo de ver o jogo rodando no console mais popular do Brasil.

Embora a SEGA inicialmente tivesse recusado a ideia, alegando limitações técnicas, a TecToy não desistiu. Utilizando as artes gráficas da versão de Street Fighter II para o Mega Drive, a equipe de engenheiros da empresa passou quase um ano adaptando e compactando o jogo para caber em um cartucho de apenas 8 megabytes, uma proeza técnica considerando que a maioria dos jogos para o Master System ocupava apenas 1 MB.

A surpresa da Capcom

O projeto da TecToy culminou em uma visita à Capcom, empresa criadora de Street Fighter II. Durante a apresentação do jogo, Stefano Arnhold, fundador e presidente da TecToy, entregou ao representante da Capcom um controle de Mega Drive para que ele pudesse testar o jogo. O representante, confuso com a qualidade inferior ao que estava acostumado, acreditou estar jogando em um console de 16 bits. Ao descobrir que o jogo rodava no Master System, ficou impressionado com o feito técnico e deu sua aprovação para a versão brasileira.

Adaptações e limitações

Como era de se esperar, adaptar um jogo tão complexo para um hardware limitado resultou em diversos compromissos. A versão do Master System de Street Fighter II teve apenas 8 dos 12 lutadores originais, com personagens como E. Honda, Zangief, Dhalsim e Vega sendo removidos. Além disso, os cenários sofreram uma drástica simplificação, e a jogabilidade teve que ser adaptada para funcionar com apenas dois botões.

As limitações gráficas e sonoras foram evidentes, mas a TecToy conseguiu criar sprites com um nível de detalhe impressionante para os padrões do Master System. No entanto, algumas partes do jogo estavam parcialmente localizadas, com menus em inglês e outras áreas em português.

O legado: um item de colecionador raro

Hoje, a versão brasileira de Street Fighter II para o Master System é considerada um item raro e altamente cobiçado por colecionadores de jogos retrô. Em sites de revenda como eBay e Mercado Livre, o jogo alcança preços elevados, variando de US$ 249 a R$ 1.198, dependendo do estado de conservação.

Esse título, ao lado da versão de Street Fighter II para o Game Boy, é uma das poucas adaptações do jogo para consoles de 8 bits, o que o torna ainda mais valioso para os aficionados por histórias de adaptações inusitadas na indústria dos games.

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